Robson Rocha vai votar pela primeira vez nas eleições municipais de outubro. Aos 18 anos, ele cursa o terceiro ano do ensino médio em uma escola pública e trabalha como vendedor no comércio informal do Centro. Perguntado sobre sua opinião em relação à importância do voto, o jovem cala, olha para cima, pensa por alguns segundos, até que sorri e responde: “Não sei. Nunca pensei sobre isso não”. Luan Cavalcante, que tem a mesma idade de Robson e também vai votar pela primeira vez, faz cursinho pré-vestibular em escola particular de alto padrão. Quando indagado se costuma conversar sobre política, seja em casa ou na escola, ele não titubeia: “Não, quando falam em
política eu saio é de perto”. A explicação vem em tom ainda mais radical: “No Brasil, só é roubo”, generaliza, acrescentando que os políticos estão muito distantes dos jovens.
Robson e Luan, embora separados pela classe social, fazem parte de uma mesma parcela de jovens que já está descrente em relação ao cenário político do País, mesmo antes de começar a decidir quem serão seus representantes. Durante a última semana, O POVO ouviu 20 jovens eleitores, de diferentes locais de Fortaleza e distintas classes sociais, que neste ano vão votar pela primeira ou segunda vez. Embora, logicamente, não se trate de pesquisa com valor científico, as opiniões colhidas apontam para alguns elementos em comum a serem analisados. A geração que chega às urnas no início desta década viveu até aqui um período de estabilidade político-econômica, com democracia e imprensa livre. Por isso mesmo, irregularidades que antes ficavam obscurecidas pelas amarras da ditadura passaram a proliferar em forma de escândalos políticos. Talvez esteja aí o fato da quase totalidade dos jovens ouvidos terem citado a palavra “corrupção” ou “corrupto” quando questionados sobre a imagem que têm dos políticos.
Lúcio Rogério Filho, 17, considera que, em geral, os políticos dão “calote no povo”, mas reconhece que “alguns prestam”. “Antes de votar, eu não era muito ligado nisso (política), mas agora vou me aprofundar”, projeta Rogério. Jubeny Saraiva, 18, disse que, através do voto, poderá “exercer a cidadania”. Porém, assim como vários outros, disse que vai votar somente “porque é obrigatório” e afirmou ter “pavor” de política. Esses jovens viram a transição de um governo de direita para um de esquerda na presidência, mas parecem não terem sentido mudanças estruturais em campos básicos. Talvez por isso, apontam que saúde e educação deveriam estar entre os temas prioritários nas eleições. Pelo mesmo motivo, muitos desses jovens dizem não ter partido ou líder como referência na política, embora outros tantos, entre eles Rogério, citado acima, citem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Fonte: O POVO
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